Profissionais dão dicas de como deixar a casa em ordem sem sacrifício

A CASA EM ORDEM

Profissionais dão dicas de como deixar a casa em ordem sem sacrifício

Criar metas, se premiar e dividir as tarefas por partes são algumas das sugestões de personal organizers para colocar um ponto final na bagunça sem sucumbir o cansaço

Por PATRÍCIA CASSESE23/06/19 – 03h00

  • Organizacao de casaPersonal organizer, Cristina Dumont defende o desapego e aconselha iniciar a arrumação da casa definindo prioridades em cada cômodo: “Faça um planejamento como um compromisso.”Foto: Flavio Tavares/O Tempo
  • arrumaca2.jpgJéssica e Ana Carolina: “Os apartamentos estão cada vez menores, o que acaba sendo desafiador”Foto: Arquivo Pessoal
  • kondo.jpgMarie Kondo: a guru japonesa da organização estreou, no início do ano, um realityFoto: Netflix/Divulgação
  • arrumaca5.jpgNalini: “Quando faço uma sessão, procuro não passar de 5 horas”Foto: Hosana Evarini/Divulgação
  • arrumaca4.jpgSofia Fada: entre brinquedos do filho e produtos da sua start-upFoto: Hermann Santiago/Divulgação

Fosse uns tempos atrás, ao se deparar com um sapato de seu agrado, a mineira Sofia Fada, 39, provavelmente sucumbiria ao ímpeto de comprar logo dois pares, ainda que de cores distintas. Hoje, não mais. A contenção no consumo é um, digamos assim, efeito colateral de um processo que, na verdade, ainda está em curso: a organização de sua casa. Ao se enfronhar nesse desafio, ela, que trabalha com desenvolvimento de start-ups, por tabela passou a se conscientizar do quanto o ser humano tem o péssimo hábito de acumular coisas no curso da vida, e a importância do consumo consciente até para a própria sobrevivência do planeta.

Sofia faz parte de um contingente que só faz crescer: o de pessoas que, cansadas do acúmulo e da desorganização que rondam suas vidas, tentam colocar um fim ao caos por meio de estratégias como setorização e desapego. Esse nicho tem ganhado fôlego com o lançamento de livros destinados a ajudar quem se aventura nesse desafio, canais no YouTube, programas de TV (como o “Santa Ajuda”, do GNT, de Micaela Góes) e até mesmo reality- shows, como o “Ordem na Casa”, do Netflix, protagonizado pela guru japonesa da arrumação Marie Kondo, autora do método KonMari.

Mas se os ganhos advindos da organização são inquestionáveis, os desafios que inevitavelmente surgem no curso do processo – falta de tempo, cansaço, apego a itens ou mesmo a impressão de ser um procedimento que necessita um investimento alto – por vezes arrefecem os menos determinados. E foi justamente para dar dicas de como não sucumbir aos obstáculos que O TEMPO ouviu quatro profissionais de metodologias distintas, mas que têm como denominador comum a vontade de colocar um ponto final na bagunça de seus clientes.

Uma das poucas certificadas do método KonMari no Brasil, Nalini Grinkraut tem como principal dica alternar o processo de organização a outras atividades, para não ficar maçante. “E quebrá-lo em etapas menores. Se você quer organizar o home office, por exemplo, separe as categorias e planeje o começo, meio e fim de cada uma. Dessa forma, você vai obtendo pequenas conquistas. E uma sugestão que sempre dou é se premiar por esses ‘pequenos’ resultados: ao fim de cada categoria, faça algo que goste, como tomar um banho relaxante ou dar uma caminhada no parque”, diz.

A organizer Cristina Dumont, da Mudares Organiza, por seu turno, aconselha a definir, dentro da casa, as prioridades, indo de cômodo em cômodo, para a pessoa não ficar desestimulada logo de saída. “Vamos imaginar que seja a cozinha. Faça um planejamento, inclusive anotado na agenda, e tente encará-lo como um compromisso para o qual se deve dar prioridade”, frisa ela, que, para os mais reticentes, indica ainda fazer a organização móvel a móvel.

A contratação de um profissional para conduzir o processo de organização é outra questão que ainda suscita dúvidas: afinal, trata-se de um recurso viável apenas para os mais abonados? Ana Carolina Azevedo e Jessica Espíndola, da Organize Bem, garantem que não. Mesmo sem citar preços (mesmo porque o orçamento depende da demanda), elas afiançam que há opções bem acessíveis, a começar da consultoria – quando as organizadoras se debruçam sobre o caso e traçam um passo a passo para o contratante. “Ou seja, a gente vai apontar as melhores soluções para o caso, mas quem vai fazer é ele”, explica Ana

Nos casos em que o contratante quer de fato delegar o processo ao organizador, o preço é calculado por fatores como o número de cômodos. Mas Ana e Jessica lembram que a maioria dos profissionais ou empresas, hoje, aceitam parcelamento do valor, que pode ser feito inclusive por cartão.

A hora do descarte. Todas as organizers entrevistadas concordam que o descarte é uma etapa intrínseca ao processo de organização, independentemente do método. O KonMari, vale lembrar, sugere que a pessoa reflita, a cada peça, se ela de fato lhe traz felicidade. Do contrário, é hora de agradecer e fazer a roda girar. Mas… e se depois bater o arrependimento? Nalini costuma dizer que não há nada no mundo que seja insubstituível. “Sempre podemos usar uma dose de criatividade. Eu, por exemplo, me desfiz de um baldinho de gelo e tive um aniversário no qual me vi precisando dele. O que fiz: pedi a uma convidada para trazer. No caso de roupas, se você se arrepender, pense que alguém estará fazendo um bom proveito dela. Já documentos, papéis, você sempre pode pedir uma segunda via”, diz.

Nalini, aliás, costuma aventar uma situação extrema para provar sua teoria. “Imagine que sua casa pegou fogo. Se você está fisicamente bem, é isso que importa, pois pode ir atrás do que perdeu. Claro, vai dar trabalho, mas nada de tão ruim poderá lhe acontecer se não tiver esses papéis”, entende.

Ana e Jessica, da Organize Bem, corroboram: “A verdade é que a gente acumula muito no curso da vida. Todo mundo tem, em casa, coisas que não usa mais, e que, portanto, podem ser doadas ou vendidas – ou mesmo descartadas”. Por outro lado, Cristina Dumont analisa que o desapego acaba sendo um processo mais fácil em algumas culturas, caso da japonesa, onde encontra respaldo também em uma realidade estrutural: lá, as moradias têm dimensões muito menores que as norte-americanas, por exemplo.

Importante é focar no que é essencial, eliminando excessos

“Isso é completamente inaceitável. Você tem quase 19 anos e eu estou cansado disso”. A frase postada há dias no Twitter do apresentador da BBC Nicky Campbell vinha junto a uma foto flagrando a bagunça daquele que seria o quarto de sua filha. A iniciativa animou seguidores a postarem fotos de desordem em suas casas. Mas, bem, houve quem criticasse a exposição e Campbell acabou retrucando que tudo não passava de uma brincadeira entre os dois.View image on Twitter

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Verdade ou não, Cristina Dumont entende que, sim, a bagunça estressa. Sofia Fada concorda e admite que já se desesperou ao constatar o sumiço de objetos em meio ao amontoado de coisas dispersas. “Na verdade, como trabalho com criatividade, preciso de um certo caos. Mas quando me mudei para meu atual endereço, me perdi. Os cômodos tinham uma disposição diferente da casa anterior, e acabei não conseguindo me organizar”, admite.

Não bastasse, entraram em cena os brinquedos da filha mais nova, Ana Teresa, e o material de estudo do mais velho, João Gabriel, além de caixas de produtos, já que ela usa seu endereço pessoal também como home-office.

Ao ler o livro e assistir à série “Ordem na Casa”, de Marie Kondo, na Netflix, Sofia percebeu que o que ela pregava “fazia, sim, sentido”. “Que é focar no que é essencial. Então, é tirar a roupa que você não usa mais, os livros que não têm mais a ver contigo… De pronto, entendi que teria que abrir mão de muita coisa, diz. Ao mesmo tempo, Sofia traçou, intuitivamente, uma estratégia, a de associar a organização à meditação mindfulness, “para pensar nesse processo não como algo pesado, mas uma forma de relaxamento”, compara.

Coincidentemente, foi também após uma mudança que a médica Ludmila Cabral percebeu que precisava de ajuda. “Não conseguia pôr as coisas no lugar, principalmente itens menores, como documentos, e fui deixando tudo de modo meio aleatório. Minha ajudante até ria, pois o que não tinha lugar, acabava indo para debaixo de uma cama”, lembro. Com isso, veio o incômodo. “Era a minha casa de recém-casada e não achava as coisas. Isso traz uma carga pesada, pois é a sua casa, um lugar que seria para você aproveitar”, explana. Ludmila contratou Jessica e Ana Paula e hoje brinca que existe uma casa antes e uma depois das duas. “A organização foi uma bênção. Na cozinha, por exemplo, consigo aproveitar cada espaço e ver todas as vasilhas que tenho. Se alguém me pergunta sobre um objeto, já sei falar: ‘está em tal armário’”, festeja.

Associação

Anpop. Criada em 2014, a Associação Nacional de Profissionais de Organização e Produtividade tem, hoje, 300 associados. Uma das missões, diz a presidente, Ana Paula Vanzan, é ratificar a importância do segmento para a economia do país.

E mais. “Buscamos o reconhecimento da profissão, o incentivo e a defesa da classe, capacitação e formação como diferenciais, troca de experiências, melhores práticas e fortalecimento do grupo”, diz ela.

Dica. Ao contratar um profissional, Ana sugere uma análise do currículo, levando em conta a experiência na área, cursos de capacitação e, claro, os depoimentos de clientes.

Guru da arrumação

Acusação. Semana passada, Marie Kondo foi acusada de apropriação indébita. A americana Linda Koopersmith, a “The Beverly Hills Organizer”, alega que, no que tange à dobradura de roupas, o KonMari replicaria métodos ensinados por ela desde o ano de 2005.

Novo livro. Alheia à celeuma, a guru japonesa anunciou, no Instagram, que seu novo livro – “Kiki & Jax: The Life-Changing Magic of Friendship”, voltado ao público infantil – será lançado dia 5 de novembro. A obra tem como tônica a amizade, mas, como pano de fundo, a questão da arrumação estará lá, firme e forte.

Link para a matéria na página do jornal O Tempo: https://www.otempo.com.br/interessa/profissionais-d%C3%A3o-dicas-de-como-deixar-a-casa-em-ordem-sem-sacrif%C3%ADcio-1.2199253